Todos os dias, ao ir para o trabalho, sempre no mesmo horário, sempre o mesmo ônibus, quase sempre o mesmo motorista.
Na última quarta-feira, foi um pouco diferente. Eram 07:15h. Horário de sempre. Ônibus de sempre.
O motorista, no entanto, não lhe pareceu familiar. O ônibus estava quase cheio. E ela ouviu o motorista dizer:
– Desculpa, gente. Eu sou novo nesta linha.
E, antes de virar a cada curva, a entrar em casa esquina, ele perguntava: “é aqui?”, “é este o caminho?”.
Tirando as questões organizacionais de lado, de colocar um motorista para conduzir um ônibus sem conhecer previamente o trajeto, ou treinamento… todos os passageiros do ônibus ajudavam o novato.
– Sim! É na próxima esquina! Vira ali à direita!
E o motorista, continuava perguntando, a cada rua que precisava entrar. E os passageiros, ajudavam-no, dando o caminho correto.
Por outro lado, por estar conduzindo, o motorista perguntava sem olhar para trás, para os passageiros que o conduziam. E tinha uma direção segura. E os passageiros, por outro lado, não tinham apreensão, nem medo de o trajeto ser desviado sem querer.
E fiquei pensando em o quanto esta cena reproduz a metáfora da vida…
O quanto guiamos a nossa vida sem, muitas vezes, saber o caminho? Qual o caminho certo e o errado?
E o quanto precisamos da ajuda de pessoas que não podemos ver? Que precisamos ir sem olhar para trás? Por outro lado, também, quem está atrás, também nos guia.
Sejam as pessoas do nosso passado (que ficaram para trás por algum motivo) que nos ensinam sobre quais caminhos devemos seguir. Sejam as pessoas dentro de nós (dentro do ônibus): aquelas pessoas que já fomos. Sobre o nosso próprio passado, sobre aquele ser que cada um de nós já foi e que não queremos olhar para trás, mas que nos ensina a que trajetória seguir.
E, ainda assim, na vida real, quando aquele monte de gente desceu comigo, o motorista foi agradecendo a todos que desciam e tinham ajudado ele até ali.
Uma pessoa se aventurou:
– Agora o senhor segue em frente e pega ali, ó, aquela rua…
– Obrigada, moça. Mas daqui eu já sei. Daqui eu já conheço o caminho.
Deve ser porque agora ele estava sozinho no ônibus. Inteiro dele mesmo. E, agora, o caminho já era conhecido.