Em tempos de pandemia, o consultório pode ser – literalmente – qualquer lugar. É no lugar confortável e acolhedor para o paciente. Ou em que ele sinta que tenha privacidade e espaço para poder falar do que precisa ser dito na terapia.
Quando iniciamos os atendimentos, o cenário era sempre de paredes escondidas. Uma vez, foi um quartinho em casa, escondido – pois, em tempos de todo mundo em casa – faltava silêncio e privacidade. E, no momento mais emblemático, foi quando tivemos sessão em que estava dentro do closet. Sentou no chão dentro do armário e fechou a porta. E ali era o nosso lugar de terapia.
Três meses depois do início da nossa terapia, quando abriu a câmera, o cenário era outro
– Trouxe a gente pra cá, e o cenário não é protetor de tela.
De novo, sentou no chão. Mas, dessa vez, o chão era grama. E as paredes era o Pão de Açucar, o mar, o céu, com um solzão, cheio de nuvens. E compartilhou o que via comigo. Ao mesmo tempo que ali era um local acolhedor e privado, era também um lugar amplo, natural, não-escondido.
– Que delícia estava o nosso consultório hoje.
– O consultório não é “nosso”. É seu. Eu olho para meus livros de sempre atrás de mim:
– Mas é nosso sim. É o nosso-espaço-terapêutico. E é você que está nele. Hoje, as paredes estão mais coloridas, amplas.
– Vou trazer sempre as nossas sessões para cá -, disse, antes de encerrarmos.
Se o processo de terapia amplia os horizontes, e expande a consciência, este foi o exemplo mais real e concreto que pude evidenciar. O armário de antes ficou pequeno; se expandiu, e não cabia mais para os nossos atendimentos.
Agora, o nosso consultório – e o processo terapêutico – estava amplo.
Este texto só foi publicado após autorização.