Nomear sentimentos nem sempre é uma coisa trivial, fácil e simples. Pra isso, é preciso acessar caminhos internos que a gente não conhece ainda. São caminhos obscuros, sombrios, desconhecidos. É dar sentido e nome a algo que a gente sente. E não é pela racionalidade que isso acontece.
Parte do processo de terapia é… “qual o seu sentimento”?
O sentimento pode ter relação com fatos, coisas, momentos vividos, pessoas, situações, lembranças. Sobretudo, por nós mesmos. O sentimento tem relação com o passado. Lembrando daquela cena, contando aquela situação em terapia… qual o sentimento? Raiva. Medo. Tristeza. Angústia. Alegria. Paciência. Amor.
Não existem sentimentos bons e ruins. Não é ruim sentir raiva. E nem bom sentir amor. Não é algo cartesiano. Não há (não deveria haver) julgamento sobre o que o outro sente. Sobretudo em terapia.
Quando o paciente diz: “não sei se está certo”, eu sempre digo que está certo. Se é dele, está certo. Quem somos nós – psicoterapeutas – para dizer o que é o certo? O paciente, dando nome ao sentimento, é aquele nome mesmo. É com aquilo que iremos trabalhar. É o que vem, é o nome que ele dá, sobre o que ele sente.
E quando temos um sentimento de algo não vivido? Não é um momento real. Uma vivência. Uma experiência. Uma lembrança. É algo que não viveu. Algo que não aconteceu. Estes sentimentos são o que pode chamar de “sentimento não vivido”. Ouvi isso outro dia e achei tão lindo e poético que resolvi dividir aqui com vocês: “o sentimento não vivido”.
Qual o sentimento que vocês têm por algo que não viveram? Por lembranças de coisas que não existiram? Qual o olhar sob esta perspectiva do não-existir? E o sentimento a partir disso?
Qual o sentimento que não viveram? O sentimento que não sentiram? E que agora, olhando pra lá pra trás, pode, enfim, sentir o que não sentiu.
Bonito, não é? Pode ser dolorido, e ainda mais desconhecido, mas é, em terapia, que podemos encontrar os caminhos possíveis para que, independente do que a gente tenha vivido, que não deixemos, nunca, de sentir.