Tem um Instagram do qual gosto muito, chamado Histórias de Terapia. O @ deles é @ter.a.pia. E a proposta deles é contar histórias de pessoas enquanto lavam louça (atividade doméstica que eu adoro).
E eu li / ouvi a história do Jorge e da Gleice. Gleice desencarnou no parto da segunda filha deles e ele, o pai, conta sobre a trajetória deles e também falas da Gleice, pela fala dele. E uma das falas dela é de que “somos memória”.
E eu fiquei pensando nessa frase de alguém que já se foi, na boca de quem ainda está. E em como isso fala também sobre o processo de cada um de nós.
Na terapia, somos (e contamos) memórias. Sejam conscientes ou não. As memórias conscientes, da nossa infância, dos nossos pais. Coisas das quais nem lembrávamos muito bem mas que, no processo terapêutico, vai vindo que a gente nem sente.
E somos memórias inconscientes. Seja através dos nossos sonhos, do aparecimento dos arquétipos ali, dos registros que nem lembrávamos que tínhamos, das associações livres que fazemos, das “lembranças” que nem estavam mais acessíveis mas que, no processo psicoterapêutico, é dado luz.
Nossas memórias que nos tornam humanos podem não ser só nossas mas arquetípicas. Podem ser memórias do inconsciente coletivo. Memórias nossas, coletivas, culturais, familiares.
A percepção de sermos nos permite resgatar aspectos sombrios da nossa psique. Dar luz sobre eles. Permitir olhar – agora – sob outra perspectiva. O nosso eu adulto, de agora, pode olhar para o eu criança e àquelas memórias e ressignificá-las.
O Jorge, lá, do @ter.a.pia diz que conversa com a Gleice (a esposa desencarnada) em pensamento. Não sob uma perspectiva espiritual, mas criativa, “inventada”. E isso também é memória. Criar é memória. É trazer algo que já sabemos e trazer pro presente aquilo que nem lembrávamos que carregávamos.