Na clínica junguiana, paciente e terapeuta são como duas substâncias alquímicas, que reagem entre si. Acontece uma reação (alquímica) entre um e outro e, a partir de então, acontece a transformação do processo. O paciente é transformado na análise, mas o terapeuta também o é.
A transformação que acontece, no setting terapêutico, não é apenas individual (do paciente), mas coletiva (do terapeuta). E, esta transformação acontece também em nível “mais coletivo ainda“, já que a transformação reflete também na vida fora do setting. É aquela analogia que vemos da lagarta e da borboleta. “O que aconteceu com você, que era lagarta e agora é uma borboleta?” “Estou em terapia“, diria a borboleta.
Esse processo de tranformação pode vir de uma consciência de um lado sombrio, inconsciente. Pode ser de um insight. Pode ser de um olhar para si (do paciente para si mesmo). Pode ser uma interpretação do analista que faz o paciente pensar, sentir, ampliar. Pode ser um sonho que desnuda algum aspecto que ainda não estava iluminado.
E, assim como paciente, terapeuta sai também transformado. O terapeuta também é tocado por aquele processo, por aquele outro ser. Não só pela história, como pelo olhar do outro, pelo trabalho coletivo, em conjunto. E, só pode ser analista, aquele que está em contato com a sua própria sombra, com a sua própria análise. Um olhar para o paciente, e um olhar para a sua própria ferida.
Como Jung fala que, ao “tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana“. São duas (ou muitas) almas humanas que são tocadas mutua e coletivamente e que a transformação, a partir do toque, acontece.
O setting, portanto, mesmo online, se torna um espaço sagrado de transformação mútua. Um lugar alquímico, um caldeirão em que os elementos se misturam, se condensam, e se transformam em um material novo.
A transformação também se reflete coletivamente, pois paciente e terapeuta, fora do setting, tornam-se outros; estão, literalmente, transformados. Nas relações, na sociedade, na vida afetiva, profissionalmente, a transformação aparece, do paciente e do terapeuta, que são contaminados – um pelo e para o outro – a partir desta aliança terapêutica. O que acontece do lado de dentro, do setting e de si mesmo, reflete, também, do lado de fora.
A minha gratidão pessoal a cada uma e a cada um que me (se) confidencia o seu mundo e que, a partir disso, transforma também o meu.