Antes da pandemia, o lugar tinha endereço certo: o consultório. O número do prédio. O número da sala. Aquele sofá de sempre. Com a manta. O mais confortável possível para o paciente.
E aí…, pandemia! Isolamento social! Cada um em suas casas.
O consultório, está lá. Fechado. Vazio. Sem pacientes no sofá.
Os atendimentos, no entanto, não pararam. Pode ser via whatsapp vídeo chamada, via Skype, via Google Meet. A ferramenta, é aquela em que o paciente tem no celular ou computador. E que a gente possa ver-e-ouvir um ao outro.
Mas o local, aquele sofá acolhedor, agora, pode ser qualquer lugar. Literalmente. Já foi carro; já foi play do prédio; já foi no quartinho dos fundos, em casa. Já teve casos de ser na rua, na praça, sentados em um banco na rua.
Com isso tudo, a gente aprende que o lugar acolhedor não é o sofá. Ou a manta. Ou o endereço onde a gente recebe.
Mas o lugar acolhedor é o nosso olhar. A nossa escuta. É quando a gente “dá o play” na sessão e estamos ali, inteiros. Prontos para ouvir. Para acolher, ainda que sem braços, que seja no silêncio, um choro, uma angústia, uma questão mais difícil ou dolorida.
Hoje, atendo pacientes online, que chegaram com a pandemia (a gente não tinha atendimento antes). E que, apesar do distanciamento, o atendimento psicoterapêutico não tem nada distante. E menos ainda frio.
É com o isolamento social que a gente aprende que o lugar e o setting não é um espaço físico. Mas que o lugar é a nossa escuta. A nossa fala. O lugar (qualquer que seja ele) em que o paciente possa (não) falar e ser acolhido, ser dado sentido, caminhos, escutas e partilhas.
Gratidão a cada um que passou pelo “consultório”.
Gratidão aos colegas do grupo do whatsapp, que proporcionaram esta reflexão e possibilidade de texto.