Quando o inconsciente pede…

Uma das coisas mais importantes dos seres humanos é o afeto. O quanto o afeto nos move, nos leva e nos traz. Não acredito em afetos positivos ou negativos. Tudo o que nos afeta, nos toca, nos move é igualmente importante.

Seja uma ira, uma raiva, um carinho, um afago, a empatia, uma emoção, qualquer que ela seja. Mais importante do que reprimir um afeto errado, é importante senti-lo. Não perdendo, claro, o respeito pelo outro, o cuidado e a empatia das relações.

Em épocas de pandemia, em que o contato físico está cada vez mais escasso, os afetos têm nos aflorado de outras formas (a mim também!). A gente conhece pessoas pela virtualidade. Algumas, nunca nos tocamos sequer.

E essa virtualidade, que, por um lado nos protege, também permite a ira, a raiva, a belicosidade, já que há a tela, a câmera, a distância, o wifi. “Ih, caiu”. Ficou offline e foi.

A distância, no entanto, não oculta nossos inconscientes, nossos atos falhos. Assim como a gente percebe a ira em uma pontuação, em uma escrita, em um olhar na câmera; a gente também percebe os atos falhos, e o “ops, desculpa, foi sem querer”.

E foi numa dessas situações que foi bem perceptível. A belicosidade e o desejo por afeto. Muitas vezes, quem grita é quem esconde um desejo de afeto sincero pelo outro.

E, durante um tempo, ouvimos gritos. Ouvimos “não”. Ouvimos “não agradeçam”. Sejam “frios”. Pois é assim que as relações para algumas pessoas são: burocráticas. Sem afeto. Na virtualidade, sem afeto? Não sei. Acho que ao contrário. Apesar da virtualidade, muito afeto!

E deste mesmo lugar em que vieram os gritos, vimos um ato falho. Vimos uma desculpa pelo erro descontextualizado. Só que o descontexto já ficou evidente. E aí veio uma enxurrada de afeto. Os agredidos viraram os olhos e entregaram afetos sinceros. E o burocratês se abriu para receber. E poder dizer “obrigada” onde antes existia frieza.

E aí o que aprendemos é que nosso, inconsciente grita por afeto. Mesmo quando há uma “capa” de belicosidade, há, também, um lado de dentro, bem no fundinho, de um desejo de amor. E é nos “sem querer” que esse desejo aparece.

E, aqui entre nós? Que maravilhoso por isso! Que, apesar da dor, da distância, do que há de bélico em nós, nosso inconsciente possa gritar ou sussurrar por amor.