Outro dia eu estava vendo no Instagram (uma rede social que ganhou o meu coração ultimamente, sobretudo com os stories), e me chamou a atenção da foto de uma moça amamentando o bebê recém-nascido e tirando um selfie. Como pede o Instagram, colocou uma série de filtros (ela mesma de óculos escuros) e uma hashtag na foto.
Eu sou mãe de uma menina de 12 anos, mas que não nasceu de mim. Não a amamentei, portanto.
Acho que a mulher deve, sim, amamentar em qualquer lugar. E que deve ser dado o direito de ela alimentar o seu neném e sem nenhum pudor de seios de fora ou nada disso. Não deveríamos cobrir os seios com paninho ou esconder com a roupa, quando o olhar do promíscuo ou do erótico, ou do libertinoso, é do outro. Não há nada de erótico a amamentação. Há um profundo amor. Uma das primeiras conexões mãe-bebê.
E aí eu quero chegar no ponto da amamentação e do selfie na mesma foto.
O momento do amamentar é uma das primeiras conexões mãe-bebê (quando o bebê está nascido). E, neste caso, eu imagino a troca de olhares, de carinhos, de chamego. De palavras e de silêncios. De poder estar ali, totalmente conectados um ao outro. E estes momentos podem acontecer até na fila do banco (se é lá que a mãe está amamentando). Ou pode acontecer na penumbra do quartinho do neném. Em qualquer lugar é qualquer lugar. Onde a mãe e o bebê estiverem. E, tendo fome, ou sendo o momento, é o momento.
E, de quem quer que sejam os olhares, o olhar da mãe é / deveria ser para o seu bebê. Se conectar ali, naquele movimento.
E, quando este momento “pede” uma selfie. Ou quando esta mãe pensa na selfie deste momento, me choca um pouco. Mesmo que seja uma foto-política para que seja promovido o aleitamento materno em qualquer local, sem restrições. Ainda assim. Penso que pode se fazer a foto política sim. Deve ser feito. Mas eu entendo que selfie, muitas vezes, é “preciso ser vista / curtida neste momento”, ou um desejo de auto-exposição desmedida.
E, não entendo que este momento – a amamentação – deva ser um movimento para fora; mas um movimento para fora – para dentro, também. Algo muito, muito íntimo. Que pode ser registrado (e guardado).
Mas que o registro – e as curtidas, ou os novos seguidores – pode desmembrar este movimento tão dentro, para algo tão fora que jamais vai dimensionar o tamanho do amor e do acolhimento que deve haver neste momento. E aí, o que é poético, o que é íntimo, o que é afetivo acaba se perdendo.
Que possam existir, portanto, bebês fofos em nossas timelines. Mas que possam existir também momentos íntimos (que imaginamos) e que sequer vejamos, em lente nenhuma, em rede social alguma. Que a conexão mãe-bebê possa existir dentro dos seus corações, e fora das lentes de cada um de nós, mesmo que seja para serem curtidas.