A VIDA PERDEU O SENTIDO PORQUE DEIXAMOS DE SENTIR

A VIDA PERDEU O SENTIDO PORQUE DEIXAMOS DE SENTIR

O homem se orgulha se ser racional, de ter evoluído muito desde que deixaram de ser macacos. O cérebro humano é um dos mais privilegiados de toda a natureza.

O pensamento é uma função da mente, e existe para fazer conexões, reflexões, criar algo novo. O pensar inventou tantas coisas: o fogo, o avião, o sapato, o botão, a moeda, o relógio. Médicos pensam (e estudam) para operarem e fazerem diagnósticos. Professores pensam para desenhar suas aulas. E nós – seres humanos em gerais – pensamos para aprender. Tudo. todo o tempo.

Por conta do pensar, achamos que esta é a maior e mais nobre função humana, e seguimos a vida através do pensamento. Já o sentir é qualificado, muitas vezes, como sendo burro, ingênuo, sem utilidade e só serve para nos machucar. Para que sentir se pensar resolve todos os problemas? Você já pensou sobre isso? E sentiu?

Isso não acontece quando o pensar útil se transforma em um ruminar de pensamentos sobre a vida, sobre os problemas e isso tudo se reverte em pré-ocupação (da mente), que é um tentar se antecipar nas questões que ainda não aconteceram e nas conclusões precipitadas (que, aqui entre nós, nem sempre acertamos). Mas isto são apenas ruminações de possibilidades, geralmente ruins. Ou, quando você rumina, pensa em coisas boas?

“Ah, mas pensar sempre o pior é melhor, porque, aí, o que vier, é lucro”.

Então pense em algo prático que você já tenha vivido (ou irá viver ainda). Agora, pense se o pior aconteceu / acontecesse. Rumine bastante sobre. Opte por parar de ruminar. Ruminar = antecipar problemas, desgraças, conclusões precipitadas (e, quase sempre negativas). Significa distorcer a mente para achar soluções, que podem ser boas ou não.

Ruminar, portanto, é criar problemas que você nem sabe se vão acontecer ou não. E fica mastigando emoções destrutivas: medo, insegurança, preocupação, tensão, ansiedade, raiva, indecisão, angústia, desconfiança, etc.

“Quando penso sobre a minha vida, só vêm emoções ruins”.

Quando a pessoa pensa sobre a própria vida, em geral, é para resolver alguma questão que a aflige. E, aí, não temos vigilância consciente sobre o nosso pensar e, com isso, as emoções negativas, advindas da ruminação, acabam tendo consequências negativas sobre as nossas ações:

O medo de errar novamente.

A desconfiança de se magoar – consigo, com o outro, com alguma situação – novamente.

Essa desconfiança causa possíveis isolamentos de novas relações.

A preocupação (pré-ocupar-se) e a tensão gerada roubam a clareza para tomar decisões e achar soluções criativas.

Outra função da mente é interpretar o que acontece, os fatos. [E, existe uma citação na Psicologia que diz que “interpretação fora de sessão é agressão”]. Diante de algum fato, a mente vai até as memórias que temos, das experiências que já passamos, e conclui por comparação e semelhança. Mas tudo sempre aconteceu e acontece da mesma forma, pra todo mundo? E, se alguma situação X teve como consequência um desfecho ruim no passado, será que a situação X2 terá a mesma consequência negativa no futuro? Somos sempre os mesmos?

Dessa forma, acontecem os pré-julgamentos, a couraça. Por isso, é de extrema importância que a gente pense sobre a forma como estamos pensamento.

Outro problema da ruminação é o deixar de sentir – as soluções, as pessoas, a intuição, o momento presente. Queremos controlar tudo com o pensamento. Você tem total controle sobre tudo? [Eu não! E, ainda bem por isso!]

Quem já se desligou do sexo porque os pensamentos ficaram vagando? Ou se desligar de um bom filme, uma boa conversa, e coisas boas que podem estar ocorrendo na nossa vida…

Mas, dizem, que quem não pensa é um alienado. Realmente.

Mas, em geral, também dizer que sentir é arriscado. Sentir causa sofrimento, frustração, desilusão, etc. Acha mesmo?

O pensamento, então, se torna um mecanismo de defesa, como uma antecipação para não sermos feitos de bobos, para ficarmos espertos. Mas, o que causa sofrimento são os pensamentos, não os sentimentos. Sentimos raiva, culpa, medo, sobre aquilo que pensamos, e não sobre o que sentimos.

No consultório, quando perguntamos “isso que me contou, qual o sentimento?”, em geral, o paciente diz o que acha (o que pensa!). E achar é função da mente. E o que você sente sobre isso? Não sabem dizer. Nunca pensaram sobre isso. Nunca pensaram sobre o sentimento! Nem sabem o que sente… Não é para pensar, é para sentir. O que sente? “Não sei” é a resposta mais comum.

É por isso que nada tem sentido. Faz sentido para você?

Se não sabemos o que sentimos, se não nos é possível nomeá-los (a gente nomeia o que a gente conhece), como podemos, nós mesmos, ter sentido?

Não ter sentido = não tem sentimento. Já pensou sobre isso? (Olha o pensamento de novo!). Como não pensamos nisso, se esta é a coisa mais importante em que pensamos para que a nossa vida aconteça, ficamos reféns dos pensamentos, e nem sabemos / reconhecemos aquilo que sentimos.

Quando sentimos que nada tem sentido, portanto, é um sinal de que os pensamentos estão dominando os sentimentos. O sentir está vazio. Foi transferido para a mente. Hoje em dia, é evoluído ser intelectual, ser cult, evoluído, papo- cabeça, filosófico. É inteligente. Preciso PARECER inteligente. Preciso ter conteúdo. Sentir é para os fracos. Há que diz que “não tenho tempo para estas coisas”. Sentir “é coisa de mulherzinha”.

O sentir está tão desligado que perdemos o contato até com o nosso corpo. Não sentimos os pés no chão quando andamos, o vento no rosto quando andamos mais rápido. Não olhamos no olho dos outros, não sorrimos mais. [Todo mundo – cada um – plugado no seu smartphone, não é?]

Não sabemos mais o que gostamos. Não sabemos mais o que queremos. E, mesmo quando de férias, não relaxamos, porque:

Pensamos nos problemas.

Não conseguimos sentir o não-fazer-nada.

Precisamos (PRECISAMOS!) ir ao cinema, ao teatro, a exposição, ao show, ler X livros, etc.

O que fazer, portanto?

Volte a sentir. Sinta quem você é. Quem você é?

Sinta quem é outro. Quem é o outro?

Sinta a relação. Quem são você e o outro? Que tipo de relação vocês estabelecem?

Sinta o aqui-e-agora.

Sinta o gosto, o cheiro, a textura da comida, da vida.

Sinta a sua intuição. [E, se eu posso dar outro conselho é: siga-a!]

Sinta o seu sorriso.

Sinta os seus desejos. E os seus não-desejos. E não aja se você sentir o não-desejo.

O sentir vem da conexão do eu com o eu. É do lado de dentro que achamos quem somos. É onde tudo tem sentido.