Este é um texto em grupo. Comecei a pós em Psicologia Junguiana, este ano, de 2020. Deveria ser presencial. Mas está sendo online, do jeito que dá.
Já teve erros na plataforma. E, no primeiro dia de aula, um colega decidiu criar o grupo do whatsapp da turma. Com professores incluídos ali. Seria, então, o “grupo oficial”, disseram alguns. Com todo o peso que o termo oficial carrega. Quase nos disseram: “aqui não pode conversar”, já que, sendo oficial, era um grupo para comunicados. E não relacionamentos. Mesmo sendo todos nós futuros junguianos.
E aí tivemos um problema no grupo. Do whatsapp. De vez em quando tinha alguma coisa ali. Brigaram por causa de livros. Outra vez, sobre machismo. Mas quando aconteceu a briga sobre “não podemos agradecer” em que foi falado sobre gratidão é que não podíamos agradecer uns aos outros. Porque lotava o grupo com mais de 30 “obrigada”.
Algumas pessoas sentiram raiva. Outras, sentiram razão. Outras, mandaram memes. E alguns de nós criamos outro grupo, chamado “O Outro”. Era, literalmente, o outro grupo. Em que podia tudo. Gratidão, bate-papo, tudo. Sobretudo, podia relacionar-se. Consigo. Com o outro. Conhecer as pessoas. E não apenas dividir uma sala de aula e uma pós graduação.
E a relação mesmo começou com ela, que se propôs, antes da aula, a fazermos o trabalho do professor juntas. Era um trabalho praquela aula. Não o trabalho da disciplina. Fizemos juntas, sozinhas, com câmera ligada.
E esta mesma me chamou pra estudar. Vamos ler juntas o livro?, ela disse. Vamos! E começamos só nós. Éramos duas. Eu lia. Ela acompanhava. Câmera ligada. Pausa. Diálogo. E com isso, a gente foi se conhecendo.
Na aula seguinte, mencionamos em aula, na frente da turma, que estávamos estudando juntas. Era para tirar uma dúvida com o professor. Ela, então, quis fazer parte conosco. E aí, passamos a ser sempre três. Eu lia. Elas acompanhavam. Toda semana, no mesmo horário.
Abrimos um terceiro grupo de whatsapp, nós três. Chamado “Estudos-nome-do-livro-do-Jung”. E aos poucos, foram chegando mais e mais. E os estudos, toda terça-feira às 16h30, se estenderam para quinta. E às vezes às sextas.
Hoje, somos doze. Os doze apóstolos. Os doze signos do Zodíaco. Os doze signos. Os doze meses do ano. Como ele bem disse. Os doze que se relacionam. E riem, e se emocionam. E se conhecem.
Hoje, em especial, uma voltou pro seleto grupo. E, com isso, somos treze. Mas não é doze mais uma. São treze. Inteiros.
Dentro de nós, tem aquela que tem os netos. Tem aquela que faz as árvores de natais mais belas e que tem a voz doce e conta sobre a árvore da sua família. E tem aquele anão de jardim, como ela diz, e na verdade é um grande lenhador. Tem aquela que canta. E mesmo quando vem estar conosco lendo, canta. Tem a que fala de maternidade. Tem aquela que abre as cartas ao final dos estudos e nos abrilhanta com os seus oráculos, e deusas. Tem aquele que desaparece e quando vem, está cabeludo.
Tem as psicólogas. As arteterapeutas. Tem a assistente social. E a médica. E a professora (de francês!). E aquela e aquele, que, independente da profissão que segue, está ali. Lendo, estudando, cantando.
Tem a bruxa. Os umbandistas. A que não tem religião. Aquele que quer conhecer (“me leva lá?”). Tem aquele que fala dos seus Orixás. E as filhas de Iansã.
Tem a que tem netos. E as que tem filhos, grandes ou pequenos. E quase todas e todos têm os gatos, que passeiam, como iam pela Dra. Nise lá atrás, agora, pelas câmeras.
Tem aqueles e aquelas que vêm pouco. Quando dá. Nem sempre dá. E o grupo, do whatsapp, que era o grupo do grupo de estudos, e virou o grupo dos doze-treze. Não só pra falar de estudos. Mas para falar de nós. De cada um.
E, falando de nós, a gente podia até não-estudar. Teve chope virtual no final da aula. Teve o dia que não queríamos chope e teve café. Com cocada e pão de queijo. Cada uma das suas casas.
E hoje a gente ri. Se emociona. Pode ser grato. Dizer “obrigada” quantas vezes forem. E rimos. E brincamos. E choramos juntas. E compartilhamos nossos trabalhos, nossas vidas, nossas emoções, nossas religiões, nossas forças, fraquezas, fragilidades. Parece até terapia: é um lugar seguro. É um lugar em que não tem julgamento. Só emoção e troca.
Os treze, hoje, tornaram-se bons amigos. O que antes, começou com duas amigas estudando, hoje somos treze que não só estudam, mas vivem, cada um na sua subjetividade, indivíduo.
No grupo, tem sombra, ter persona, tem interpretação, tem individuação. E também tem sonho, mito, self, ego, anima e animus, energia (ah, a energia psíquica!). E tem muito, muito amor uns pelos outros. Cada um dos 13 por cada um dos 13 e por todos os treze.
E, pensando bem, somos 14. Porque, simbolicamente, temos o Jung no centro de nós.