O silêncio e o verbo

O silêncio, em geral, nosso e do outro, é bastante protetor. Por outro lado, em algumas situações, é preciso que nos coloquemos, que falemos, que seja verbalizado (em verbo mesmo), para que não adoeçamos, e nem para que alguém nos engula. Ou seja: tanto as palavras quanto o silêncio são essenciais no nosso dia-a-dia. Cabe a cada um de nós saber a hora de um e a hora do outro.

É preciso silenciar quando estamos com o outro que não ouve, que não recebe (ou não quer receber), que não aprende, que não troca. Aquelas pessoas que expõem os seus pensamentos de forma ríspida, agressiva, como “donos do mundo”, ou “donos do outro”, merecem o nosso silêncio. Pessoas que sabem tudo e demais sobre o mundo, sobre as coisas, sobre as pessoas, não abrem o espaço para a troca. Para estas, o nosso silêncio.

No entanto, é importante falar quando os nossos limites são ultrapassados, quando nos desrespeitam, nos ofendem. Quando não podemos mais lidar com aquilo que nos desagrada. A palavra pode ser, até, no olhar.

Quando este mesmo outro ultrapassa os limites de uma convivência de respeito, é preciso que venha o nosso verbo. Engolir, nestes casos, trata-se de adoecimento do lado de dentro. O grito do lado de dentro, o grito não falado para o outro adoece o nosso lado de dentro, ensurdece a nossa alma.

O silêncio pode nos proteger do mal, mas também de nós mesmos. Muitas vezes, falamos algo que não acrescentará nada. Que não chegará a ninguém, que não vai edificar nenhuma discussão ou solucionar qualquer questão.

E, pensando por este viés, o nosso silêncio pode confortar aquele que esteja querendo dividir. Pode ser o ouvido e olhar atentos à angústia alheia, e que precise apenas de uma presença silenciosa, em um mundo com tantos bla bla blás. O silêncio, assim, pode ser consolador, acolhedor, o amparo ao sofrimento alheio. E, até a alegria alheia. O silêncio também acolhe a alegria!

E, por outro lado, as palavras bem ditas, ditas na hora certa, nos protegerá, resguardará o nosso limite, a nossa essência e não permitirá o barulho do lado de dentro. Tem que ser dito o que se quer ou não, o que aceitamos ou não, o quanto estamos tristes ou felizes, a quem precisar de limites, e de ajuda, e até de nossa gratidão. Se calar aquilo que precisa ser dito, pode gerar tristeza. A fala deve ser para aqueles que têm a disponibilidade de ouvir.

Tudo, na vida, requer equilíbrio e lucidez, pois, o que é excessivo, transborda, excede. Falar nos momentos apropriados, junto a quem sabe e merece ouvir o nosso verbo; e calar quando de nada servirá a nossa fala, será um dos melhores bens que faremos a nós mesmos, e a quem convive conosco. Porque há aqueles que merecem o som da nossa voz; enquanto há aqueles que merecem o nosso mais profundo silenciar.